quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Geografia

Do meu lugar não há registos
nem mapas
nem retratos.
Para falar dele terei de mencionar
um raio de sol manso
a nascer na transversal
das tábuas do soalho.
O meu lugar é a pura geografia.
Sem o sítio.
Mais o sítio.
Continente doce onde se inscreve
o pão de cada dia
e a mecânica dos ossos a ranger.
No meu lugar
a primavera nasce
suave e rumorosa
suspensa sobre pétalas de luz.
Cada pequeno animal
sai da pedra que o protege
e corre pelo seu mundo que é também o meu mundo
e leva os meus olhos
e regressa com perguntas.
O meu lugar existe
porque existe uma andorinha a dançar
em seu redor
e tudo se torna verde e depois maduro
e há um sumo de laranja
que escorre dos lábios por volta do meio-dia.
No meu lugar há círculos abertos
e todas as poções intentam misturar-se
para que a voz do coração se torne
num ofício de ventos e de cravos.
O meu lugar
é tão belo.
É tão belo
e tão breve
o meu lugar.
José Fanha